domingo, 22 de setembro de 2013

 Aécio direciona campanha à nova classe média

   Josias de Souza
 

O lema da campanha de Aécio foi ao ar na noite de quinta-feira (19), disfarçado de propaganda institucional do PSDB: “Quem muda o Brasil é você.” Atrás desse mote marqueteiro escondem-se dois objetivos: valorizar o eleitor, atribuindo seu progresso a méritos próprios; e atenuar a importância que se atribui ao governo nesse processo de mobilidade social.
A estratégia de Aécio é clara: estimular o eleitor a olhar para as “ameaças” que o aguardam no futuro, não para as “conquistas” que obteve na fase pré-Dilma. Tenta-se mandar ao segundo plano a “política de legados” que permeia as disputas entre PSDB e PT. Deseja-se manter no centro do palco Dilma e Aécio, não Lula e FHC, que não governarão. “O Lula elegeu um poste, mas não é fácil ensinar o poste a governar”, ironizou Aécio na sexta-feira (20), em Salvador.
Dois personagens auxiliam Aécio na sua tentativa de dar cara à candidatura de 2014: o marqueteiro Renato Pereira, da empresa Prole, e Maurício Moura, do instituto Ideia. Guiam-se por pesquisas (95%) e intuição (5%). As sondagens eleitorais são de dois tipos: quantitativas e qualitativas. A primeira informa o movimento da manada. A segunda permite entrar na cabeça do boi.
Todas as campanhas com um mínimo de profissionalização recorrem aos mesmos métodos. Em vez de tentar adivinhar a vontade da massa, os candidatos e seus operadores instalam uma sonda direto na cabeça do eleitor. As campanhas, antes intuitivas, evoluíram para um esquema baseado em estatísticas.
A forma de penetrar as entranhas do pensamento do eleitor, captando-lhe as vontades e as angústias, é a pesquisa qualitativa. Reúnem-se grupos de eleitores em salas fechadas para analisar vídeos, discutir problemas e perscrutar propostas. O que diferencia uma campanha da outra é o talento de cada um para interpretar os dados.
Na interpretação repassada ao tucanato por Renato Pereira e Maurício Moura 2014 será bem diferente de 2010. Avaliam que sumiu de cena o desejo irrefreável de continuidade. Nessa versão, boa parte dos brasileiros que prosperam sob Lula estariam inseguros com a capacidade gerencial de Dilma. O receio viria sobretudo do empacamento da economia e dos soluços da inflação.
Os tucanos gostam de citar observação feita por uma eleitora de Campina Grande (PB) numa das sessões de pesquisa qualitativa. Ela disse que ficou felicíssima ao financiar uma máquina de lavar. Hoje, lamenta não ter dinheiro nem para o sabão em pó. Recolheram-se inúmeras queixas sobre a redução do poder de compra das pessoas. Daí a insistência com que Aécio fala em “tolerância zero com a inflação”.
Na opinião de Aécio e seus intérpretes de pesquisas, Dilma não vai conseguir restaurar a confiança da nova classe média até o ano que vem. Há dois dias, em reunião com o prefeito de Salvador, ACM Neto, e políticos do PSDB e do DEM Aécio leu as pesquisas de trás para a frente.
Em vez de se fixar no índice de intenção de votos de Dilma, Aécio invocou os eleitores que estão à procura de alternativas: “Hoje, 65% das pessoas não querem votar nela”, disse. Isso com toda a visibilidade de que dispõe na Presidência. É verdade. Porém, aplicando-se o mesmo raciocínio ao próprio Aécio, pode-se dizer que, no momento, algo como 85% do eleitorado não o vê como alternativa.
Os “levantadores” de Aécio acreditam que ele logo chegará à casa dos 25%, hoje ocupada por uma Marina Silva que nem partido tem. Pode ser que tenham razão. Ou não. Em temporadas eleitorais, os políticos e seus marqueteiros fazem previsões, tomam decisões, apertam os botões que acham que devem apertar e depois precisam esperar para ver como se comportarão essas criaturas terríveis, indecifráveis, imprevisíveis que são os eleitores.

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