quarta-feira, 31 de agosto de 2011

PMDBdoC faz cara feia e destila veneno em manifesto

  Antônio Cruz/ABrDe pavio aceso desde que foi apeado do posto de relator da reforma do Código de Processo Civil, o deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) moveu sua infantaria.
Divulgou nesta quarta (31) manifesto do ‘PMDBdoC’. Uma sublegenda do Cunha infiltrada na legenda do vice-presidente Michel Temer.
Assinam a peça os oito deputados federais que integram a bancada pemedebê do Rio de Janeiro –Cunha e mais sete.
Expressando-se em linguagem viperina, os signatários defendem que o PMDB devolva a Dilma Rousseff todas as poltronas que ocupa na máquina do Estado.
Anotam: como “o tamanho do partido não está representado adequadamente” na partilha, “melhor seria estarmos fora de ocupação de cargos públicos”.
Um pemedebê versado no idioma “cunhês” traduz: Dilma baniu Cunha e Cia. de Furnas. O grupo quer voltar a se sentir “representado adequadamente.”
O manifesto fala do “desconforto com as denúncias envolvendo os quadros do partido no governo” em malfeitos “anteriores à gestão comandada pelo PMDB.”
O pemedebê-tradutor explica o que vai nas entrelinhas: o ‘PMDBdoC’ refere-se à pasta do Turismo, comandada pelo colega Pedro Novais (PMDB-MA).
As denúncias que ardem nas manchetes referem-se a um convênio de 2009. Coisa do segundo reinado de Lula. Nessa época, o ministério era feudo do PT.
O raciocínio não é aplicável à pasta da Agricultura. Ali, foi ao asfalto um Wagner Rossi que, apadrinhado por Temer, dava as cartas desde Lula.
O tradutor recorda: Cunha foi empurrado para fora da relatoria do Código de Processo Civil numa conversa conduzida por Temer, no gabinete da vice-presidência.
Na parte final do manifesto, a sublegenda do Cunha mostra os dentes. Diz que o apoio ao governo não é incompatível com a apuração de “qualquer denúncia existente.”
Acrescenta que as investigações podem correr em cia “tradicional” ou na extraordinária trilha de uma “CPI”.
O especialista em tradução do “cunhês” para o português associa esse pedaço do texto a outro parágrafo, no qual o manifesto dos inssurretos menciona a DRU.
A DRU é a ferramenta fiscal que permite ao governo converter em superávit primário 20% da arrecadação tributária com destinação constitucional específica.
A coisa expira em dezembro. E corre na Câmara um projeto no qual Dilma sugere a renovação até 2015.
No manifesto, o PMDBdoC escreve que assunto de tamanha relevância merece ser bem discutido. Por quê?
A prorrogação da DRU “implicará a perda da possibilidade de aumento dos gastos com saúde e educação”, que deveriam ser “prioridades” do PMDB.
E o tradutor: com sua pregação pseudosocial, a tribo do Cunha informa ao Planalto que, desatendida, pode criar estorvos à tramitação da DRU.
No Planalto, os operadores de Dilma enxergaram o documento tóxico como um frasco de veneno fraco.
Cargos? O PMDBdoC já não tem. O pedaço do PMDB que ainda tem não se anima a devolver. Ao contrário, pede mais.
CPI? Um dos signatários do manifesto, o deputado Nelson Bornier, já havia assinado o pedido da oposição.
Se os outros sete integrantes da sublegenda do Cunha resolverem rubricar, a lista da CPI, hoje com 126 rubricas, vai a 133. O número mínimo exigido é 171.
DRU? A turma de Temer não seria maluca de permitir embaraços. O ajuste fiscal iria para o beleléu. Com ele, iria à breca o Tesouro de Dilma, do qual o PMDB é sócio.
De resto, trabalha-se com a perspectiva de que a unidade do PMDBdoC não resiste à tentação das emendas. Liberando meia dúzia, o Planalto deixa Cunha falando sozinho.
No idioma do "cunhês", o vocábulo verbas abre o dicionário.
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Escrito por Josias de Souza às 22h3